30 maio 2006

RAÇA DE GIGANTES!

(Post revisado e remasterizado em 2022)

FIZ PARA MIM ESTE BRASIL GRANDE! 
Antropogeografia Ratzeliana: 
Autenticada a Paternidade Histórica Piratiningana 
na Conquista do Sertão Imenso, 
a Personalidade Nativa se Agiganta, 
Reafirmando Etos Fidalgo 
Herdado ao Cavaleiro Ibérico 
Replasmado em Bruto Desbravador 
Pela Paisagem Telúrica 
da Selva Exuberante
Vertendo Seiva Fresca de 
Nacionalidade Emergente! 
Alan de Camargo Anhanguera XII
 
Remotos Ancestrais Castelo-cantábricos de Etos modelador do Bandeirismo Paulista Setecentista!

D. Alffonso García de Camargo, Cavaleiro co-fundador da Ordem de Santiago de La Fuente de Burgos, Alcaide Mor de Burgos em 1335.



Foi ancestral do 1º Camargo imigrado da Espanha ao Brasil em 1583, Jusepe Ortiz de Camargo, tronco da família Camargo de São Paulo e Sudeste BR. De origem hispânica, esta foi uma das principais famílias líderes da política paulistana em oposição à família Pires e seus agregados (de maioria portuguesa e vicentina) nos séculos XVII e XVIII, como protagonistas da 1ª Guerra Civil Brasileira. Naquela Ordem Equestre de Santiago, da figura acima, havia pelo menos oito membros catalogados desta antiga casta nobre e militar dos Camargo, que compunha também outras três ordens militares religiosas como as de Calatrava, de La Espuela Dorada e Real Ordem de La Banda, todas de indiscutível tradição fidalga.

Foto da página do original Armorial Equestre da Ordem de Santiago, do Arquivo Catedralício de Burgos, Cantábria, Espanha, considerado o mais antigo e bem conservado do mundo, no gênero!
"O Tempo, este inimigo do homem que destrói a beleza e a juventude, faz caducar as leis, derruba impérios e extingue até os afetos mais sinceros. Mas um poder mais sublime, porém, contra ele se levanta: A HISTÓRIA!
Os Cavaleiros fidalgos castelhanos da Cantábria setentrional foram tanto ancestrais diretos dos espanhóis imigrados a São Paulo quanto indiretamente de portugueses, a partir do período de governo filipino entre 1580 e 1640. Muitos deles aderiram ao projeto de povoamento, se comportando já como Bandeirantes patriotas, cientes do grande desafio que representaria a conquista de todo o território ao Oeste do asfixiante meridiano do Tratado de Tordesilhas, que posteriormente ampliaria em 4 milhões de Km² o Mapa do Brasil! Apresentamos alguns dos principais, mais abaixo: Bartolomeu Bueno da Silva, O Anhanguera pai e filho (Goiás), Bartolomeu Paes de Abreu, (Goiás, pai de Pedro Taques); Fernão de Camargo, O Tigre (RS - Uruguai); Domingos Jorge Velho e demais assistentes (Piauí, Paraíba, R. G. do Norte, Interior de Pernambuco, Interior da Bahia, Ceará, Maranhão); Cel. Antonio Pires de Campos, o "Pai Pirá", pai e filho, (Mato Grosso, Cuiabá); Antonio Raposo Tavares, Amazônia; RS, Paraná e muitos outros. (houve centenas deles, constam do Dicionário de Bandeiras e Bandeirantes de Carvalho Franco e obras de Afonso de Taunay.
*vide também nossos outros blogues fixos dedicados às bandeiras https://bandpauli.blogspot.com.br e fundação de São Paulo https://pauliceias.blogspot.com.br

O Duelo que Intensificou a 1ª Guerra Civil Brasileira - Prólogo dramatizado
Corria o agitado ano de 1640, período conturbado por drásticas transformações na vida até então relativamente pacata dos paulistanos seiscentistas, devido à restauração da monarquia portuguesa. A reduzida Praça da Matriz da Sé da Vila de São Paulo de Piratininga encontrava-se apinhada de gente alvoroçada. Os ânimos se exaltavam e as discussões partidárias recrudesciam. As divergências até então não haviam ultrapassado os limites da retórica, mas a tendência latente era de agravamento! As questões pautadas eram o preamento indígena e a restauração da monarquia portuguesa de 1640, com consequente perda da hegemonia castelhana, que perdurara por sessenta anos e agora se via ameaçada! E o horizonte paulistano ia se escurecendo, com prenúncios de forte tempestade!

Juán de Camargo, da Ordem da Cavalaria 

de Santiago de Burgos, Século XIV.

Fernão de Camargo O Tigre estava prestes a se tornar protagonista de um drama emocionante que começara anos antes e iria abalar a pequena vila, dividindo ainda mais a população já politicamente dividida entre dois grandes partidos opostos: Pires e Camargos! Vice líder do seu partido familiar, junto de seu irmão José Ortiz de Camargo, ele estivera loucamente apaixonado pela bela Mariana do Prado anos antes, noiva prometida a Pedro Taques, O Moço, quando então decidira-se pelo seu rapto e casamento, atraindo assim o ódio do seu rival. Este se ancorava nos outros correligionários do partido Pires do qual era parte, que também divergiam cegamente dos Camargos na questão da administração trabalhista indígena, em favor da tese ideológica jesuíta, a pedra nos sapatos dos paulistanos progressistas!
Fernão de Camargo, também conhecido como O Tigre, ou Jaguareté, não poderia jamais consentir com o intuito de João de Santa Maria, pai de Mariana, na sua determinação patriarcal de entrega-la ao filho homônimo de Pedro Taques, gringo flamengo de Flandres (com suspeição de X-Novo), que compunha a mesma equipe de D. Francisco de Sousa, em seu 2° mandato do Governo Geral da Repartição Sul, de 1609. Santa Maria era seu secretário e sentia-se naturalmente inclinado a favorecer o seu confrade da equipe, entregando a mão de sua bela e disputada filha Mariana ao seu filho, o moço Pedro Taques de Almeida.

Fernão de Camargo, nativo e apaixonado por ela, porém, se adiantara. Destemido e arrojado, dirigiu-se à frente de um bando armado até a casa da moça - que certamente também estava apaixonada - e raptou-a! Consumava-se assim de forma dramática aquele enlace (que resultou num dos mais proeminentes ramos da família Camargo paulistana, a do primogênito homônimo, os Lopes de Camargo descobridores do Ouro Preto e patronos da Ordem III de S. Francisco), restando entretanto, um surdo ódio dos Taques e seus apaniguados do partido Pires contra ele e demais representantes do partido Camargo, cujo líder maior e procurador era seu irmão José Ortiz de Camargo, o 2º da prole do patriarca Jusepe Ortiz de Camargo, imigrado de Castrogeriz de Burgos, Castela, em 1583.

A contenda política que já dividia a população, agora se agravava numa virulenta rivalidade passional!
Foi então que naquela manhã de domingo de 1640, a tempestade que se mantivera latente finalmente deflagra-se: bem no centro da vila, defronte à Matriz da Sé, então alinhada com a rua Direita, iniciou-se um duelo de titãs entre aqueles dois insignes paulistanos. Um espetáculo dantesco de dois homens lutando até a morte, motivados pelo amor e ciúmes da mesma mulher - e que já estava casada e com prole havia treze anos! As gentes se aglomeravam em torno dos contendores, suados e desfigurados pelo ódio, lábios espumando e cabelos em desalinho, com as vestes se desfiando em farrapos e manchadas de sangue, dando uma volta completa pelo centro da vila, partindo da Rua Direita e volteando pelas demais ruas do entorno, até retornar ao ponto de partida, na porta da Igreja Matriz (antiga Sé)!

As lâminas das finas e rijas durindanas continuavam a reluzir aos reflexos solares, manchadas de sangue, riscando o ar como chispas relampejantes! Os duelantes se batiam com desespero alucinado, com suas forças já descaindo. Se escrevia ali, ao fio da espada, o anacrônico epílogo daquele rapto amoroso, que anos antes dera a vitória a Fernão de Camargo, feliz possuidor da bela Mariana, mas que agora se batia pela preservação da sua honra.
Fernão de Camargo, “O Tigre”  
Ou do tupi “Jaguareté” de alcunha, da primeira geração nativa, era o primogênito do espanhol Jusepe Ortiz de Camargo, de antiga linhagem fidalga e guerreira, os Garcia de Camargo de Burgos, Cavaleiros da Ordem de Santiago de Burgos e de Leonor Domingues Luiz, filha do fidalgo português Cavaleiro da Ordem de Cristo, Domingos Luiz da Carvoeira e Ana Camacho, construtor da Igreja Matriz e instituidor do Convento da Luz, ambos cristãos velhos católicos e fervorosos de origem aburguesada portuguesa.

Fernão de Camargo, O "Tigre", seguindo a tradição cavalariana "Pasiega" da Cantábria, se tornou bandeirante experimentado na guerra (chefiou a 1ª Bandeira do Aracambi* em 1635, contra os castelhanos e nativos no RS e Uruguai), não era homem fácil de se lidar ou de transigir, ainda mais estando cônscio do seu legítimo direito como marido de Mariana! Não poderia admitir o mínimo sussurro que maculasse o seu sagrado matrimônio, pois parece que Pedro Taques andara falando demais - apesar de depois o negar veementemente -, mas agora enfrentava toda a fúria do rival injuriado! Ou teria sido intriga de alguma língua fuxiqueira? (Mais provável, hoje sabemos que os jesuítas são conspiradores e vingativos, querendo desestabilizar e debilitar a pauliceia bandeirante, em favor dos castelhanos invasores do Sul e Oeste, patronos da sua ordem). Nunca o saberemos... havia muita conspiração política no ar... traições... interesses adventícios na divisão social... para enfraquecer o Conselho da vila, velho ardil das Forças Ocultas Imperialistas, que já estavam atuantes e atuam até hoje!

*Há historiadores que dizem que entre junho e agosto de 1635, entrava, no Rio Grande do Sul, a primeira bandeira paulista, a “Bandeira de Aracambi” chefiada por Fernão de Camargo, o Tigre, com o intuito de capturar os índios patos (e reprimir a invasão de castelhanos), sendo que [talvez possa] ter saído dela um pequeno destacamento até a região de  Caaguá. Fica como outro fato histórico que a bandeira chefiada por Antonio Raposo Tavares "teria sido a primeira" (na realidade, a segunda) e que passou por Caaguá em novembro de 1636, guerreando contra os pacíficos caaguás, e capturando a maioria, e no mês seguinte atacando as reduções jesuítas (espanholas, invasoras) das Missões, abrindo caminho para os colonizadores (paulistas, portugueses e açorianos) dessa terra do Rio Grande do Sul.


Brasão Camargo dotado de cinco caldeiros de negro (armas da Estremadura) em campo de ouro, com bordadura de goles carregada de oito aspas (ou Cruz de Santander) de ouro, peças comemorativas e exclusivas dos cavaleiros participantes da retomada de Baeza, Espanha, no dia 29.11.1227, dia de Santo André, crucificado numa cruz em forma de "X".

O duelo passional durou por muito tempo, dando a volta pelas ruas centrais da vila, enquanto partidários dos contendores também se entrechocavam aos tiros de bacamarte! Assim terminou o duelo, sem vencedores entre os principais contendores, ambos muito feridos, além de um saldo de quatro cadáveres bacamarteados de seus apaniguados!

Passado um ano, entretanto, estando Pedro Taques recostado tranquilamente (segundo relata o nosso primeiro linhagista Pedro Taques de Almeida Paes Leme, parente da vítima), na mesma porta da Matriz da Sé, teria sido "atacado de surpresa, pelas costas" por Fernão de Camargo, em pleno dia, que o teria apunhalado mortalmente com uma adaga(?!). Será mesmo?! Historiadores ainda se dividem em torno de duas hipóteses, de vingança ou de conspiração dos principais elementos do partido Camargo, encabeçados por Pedro Leme do Prado, do Partido Camargo, que em sua morte em 1656, em Jundiaí, teve revelada uma escritura de perdão da mãe da vítima passada em seu favor (o historiador jundiaiense Luiz Haroldo Gomes de Soutello, o considera o próprio executor do crime e não Fernão). Fernão de Camargo teria supostamente "praticado uma vingança passional contra seu rival" (isto no imaginário popular, devido àquela rivalidade notória entre eles) ou simplesmente estaria cumprindo ordens do conluio político (pratica comum desde a antiguidade), sorteado para aquela infeliz execução? Teria sido ele mesmo o executor ou foi o confesso e perdoado Pedro Leme do Prado? Mais provável. Mas o crime significou o estopim de uma ruinosa guerra civil que se desenrolaria pelas décadas seguintes. A versão passional, que redundou de fato na explosão da 1ª Guerra Civil Brasileira, foi a versão preferida do autor paulistano, Prof. Alfredo Ellis Jr.

Este foi apenas um entre muitos empolgantes episódios que descobrimos depois de pesquisar alfarrábios, bibliotecas, institutos genealógicos, cemitérios, arquivos e igrejas de São Paulo, seguindo o nosso faro jornalístico. Estávamos fazendo jornalismo na História. Pura história de São Paulo, que não é ensinada nas escolas paulistas!? Como ninguém nunca me ensinou isto antes?

Mas a experiência colonial paulistana provou que o utópico regime republicano de Platão é inviável mesmo, seja democrático ou aristocrático. O governo ficou empacado entre duas facções polarizadas e a crise só foi solucionada muito tempo depois pela intervenção do governador-geral Conde de Atouguia, representante da majestade lusitana, que exerceu o imprescindível Poder Moderador do Rei! Nenhum governo pode funcionar dividido em duas ou três cabeças como acontece na atual república Frankenstein da maçonaria que desgoverna o país, e que ainda por cima nos legou a trágica herança do corrosivo marxismo!

Aviso: este texto é parte integrante da obra Raízes Nobres do Brasil registrada no Escritório de Direitos Autorais do Arquivo Nacional sob nº 391.505 L. 728, Fl. 165 de 2006 e 399.154 de 2007 e PAC Secretaria da Cultura SP e qualquer reprodução sem a permissão do autor será considerada plágio, incorrendo nas penas legais cabíveis.

ATENÇÃO! PESQUISADORES, GENEALOGISTAS,
HISTORIADORES, JORNALISTAS, ACADÊMICOS,
INSTITUTOS E AUTORES
Dispomos de extensa biblioteca digital de 3600 volumes [Genealogia/Hist.deS.Paulo/História do Brasil de autores clássicos*, séculos XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXI indexadas em base de dados PDF Adobe Acrobat Pro, com motor de busca!!! Rica fonte de subsídios para trabalho literário! Repassamos a base inteira funcionando, é só instalar e trabalhar!

alandecamargo@outlook.com

Precisamos voltar à feliz e próspera monarquia cristã imperial, desta vez com uma castiça dinastia Bandeirante Paulista de 500 anos! (A dinastia Bragança é estrangeira, e ficou minada pela sua espúria e incorrigível ligação com a maçonaria e não cremos que tenha até hoje se libertado desse jugo diabólico)! Se a monarquia é boa para o 1º mundo da Inglaterra, Japão, Holanda, Bélgica, Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia, Espanha, países Árabes, etc, será boa também para nós que possuímos farta tradição monárquica e fomos país de 1º mundo sob o governo de D. Pedro II, que recebeu 14.000 votos nos... Estados Unidos!!! Depois recebeu ainda uma comissão daquele país, propondo anexar o Sul dos EUA ao Brasil, para usufruir do seu excelente e honesto governo, fugindo do desgoverno maçônico askenazi daquela canalhada iluminista de Washington e New York! Mas ele respondeu: "Never, never, maine"! Ele tinha 90% de aprovação popular no Brasil! Mas foi traído justamente pela inveja da sua bondade e liberalidade, por aqueles que se diziam amigos e "irmãos" daquela "fraternidade" secreta que, induzido por Bonifácio, incautamente frequentava, e que nas trevas luciferianas preparava o punhal para lhe cravar nas costas em 1889 (como era do seu padrão conspirador, desde a Revolução askenazi dita "francesa"), para satisfazer os desígnios imperialistas das potências hegemônicas anglo-askenazi-americanas - que sempre representaram!


Nós da família Camargo de Jundiaí, Atibaia, Jarinu, Itatiba, Campinas e adjacências, durante quase toda nossa a vida ignoramos a nossa inteira identidade, até que a presente investigação histórico-genealógica iniciada em 2003 (retornando dos EUA), veio revelar uma gigantesca e castiça linhagem com cerca de 11.000 nomes! E ao compará-la com linhagens de outras famílias paulistanas, constatamos serem todas comunicantes, com os mesmos personagens presentes em quase todas elas, só alternando suas posições e graus de parentesco. Nossa particular e muito castiça árvore paulistana é um padrão genérico da própria pauliceia, dentro do fenômeno paulista do caipirismo (resultante da interiorização e afastamento do centro cultural urbano), pois se entrelaça com todas as outras famílias, através dos séculos, dentro do restrito âmbito urbano ilhado pela Serra do Mar! A influência hispânica da família Camargo representou um fator de particular importância na formação genética e caráter independente paulistano, durante quatro séculos, gema da sociedade paulistana!


Mesmo tendo nos custado dezessete anos de estafantes pesquisas, foi-nos muito gratificante descobrir, além da nossa completa linhagem Camargo, também a Bueno Anhanguera, a Franco de Camargo, Franco da Rocha, Franco do Prado, a Lopes de Camargo e Rodrigues de Camargo, Siqueira, Silveira, Cunha, Godoy, todas bandeirantes, militares ou governantes, contida na história da Capitania de São Vicente e São Paulo, na qual nos aprofundamos e agora compartilhamos com alguns trechos para os leitores, analisando episódios interessantes e pouco comentados pela atual historiografia ideologicamente contaminada (temos mais extensa e detalhada narrativa em nosso outro blogue fixo https://pauliceias.blogspot.com.br).

Nossa trisavó Maria Joaquina (Bueno) de Camargo (e Silva)* mantinha uma muito próxima relação de compadrio com as famílias Egídio Sousa Aranha/Camargo e Camargo Penteado/Andrade, "Barões do Café" de Campinas, através do apadrinhamento do nosso bisavô Francisco Rodrigues de Camargo em Campinas, batizado na Catedral em 1855, pelo padrinho (tio ou primo) Capitão Álvaro Xavier de Camargo e Silva*, marido de Maria Brandina Egídio de Sousa Aranha, 2ª Viscondessa e filha de Maria Luzia Nogueira, a 1ª Viscondessa de Campinas e irmã do Marquês de Três Rios, que foi governador de São Paulo.


*Álvaro Xavier de Camargo e Silva:
Nascimento: circa 1804


Bárbara Paes De Barros ca 1735-ca 1773
Álvaro Xavier de Camargo e Silva
Eufrosina Mathilde Da Silva Botelho ca 1780-1810


Maria Brandina Egydio de Souza Aranha
Álvaro era filho do Capitão Mor campineiro Floriano de Camargo Penteado e irmão da Baronesa de Itatiba, Anna Francisca de Paula Camargo, que por sua vez era mãe de Joaquim Ferreira de Camargo Andrade, o Barão de Ibitinga, seu sobrinho, todos titulares [honoríficos] do nosso Santo Império Nacional, que nos conferia alta dignidade e renome internacional. (Lembrando que esses títulos do Brasil Imperial são honoríficos, sem valor de nobreza ou fidalguia europeia - os brasões nobres e fidalgos válidos são os exportados pela imigração (como dos nossos enneavós Camargo de Castela e Rocha Pimentel de Távora de Portugal). Essas interessantes descobertas genealógicas vão se avolumando à medida em que se aprofunda a pesquisa e isto também poderá acontecer aos leitores que se dispuserem a pesquisar suas linhagens com afinco.

*[e Silva] filha de Francisco da Silva Lima, natural de São João Del Rey, MG, filho de José da Silva Lima, criado em Campinas SP, dito da mesma família Silva e Lima do Rio de Janeiro e primo-segundo de Luís Alves de Lima e Silva, o maçon Duque de Caxias, padroeiro do Exército Maçônico Nacional, segundo o autor mineiro Bello. (Além do [Silva] ancestral herdado de Bartolomeu Bueno da Silva O Anhanguera). O "Tigre" era o juiz ordinário da vez de São Paulo, naquele tumultuado ano de 1640, data da restauração da monarquia lusitana, que estivera durante 60 anos sem titular nativo, Portugal e Brasil foram governados pela Espanha durante 60 anos entre 1580 e 1640, período de grande progresso. A versão passional deste preâmbulo, pode não ter sido o verdadeiro motivo do duelo, pois à época muito tempo já havia decorrido do seu casamento com Mariana do Prado (circa treze anos). Seja este ou qualquer outro o motivo central, o fato é que o pânico resultante do conflito dispersaria as famílias dominantes e seus associados, despovoando e arruinando a prosperidade da vila piratiningana. Mas em contrapartida catapultaria o progresso e a fundação de outras vilas interioranas como Santana de Parnaíba, Itu, Cotia, Jundiaí e Taubaté.


(A Segunda Guerra Civil Brasileira foi a Guerra dos Emboabas em Minas Gerais, que não iremos comentar aqui). "Guerra dos Emboabas" - óleo expressionista do excelente artista Carybê e seus fantásticos "equinos parlantes" (o horror da guerra expressado pelos cavalos e não pela irracionalidade dos homens, conferindo-lhes assim maior "humanidade"!)
Gênese Piratiningana
O principal objetivo em nossa saga histórico-genealógica é desvendar inteiramente as verdadeiras origens da grandiosa e invejada nação paulista e demonstrar que ela sempre se destacou das demais capitanias hereditárias brasileiras como um povo único, de altiva tradição fidalga e índole extremamente independente. E que a grandiosidade industrial e cultural que fez de São Paulo o carro-chefe da nação não aconteceu por acaso, mas que pode ser explicada por uma herança genética (DNA) de luta, fé e caráter fundamentados na nobreza ancestral de mais de 1500 anos pretéritos! E isto vem ressaltar a importância crucial do discurso genético-genealógico no estudo sociológico e antropológico, geralmente ignorado pelas escolas brasileiras, manipuladas e manietadas pela ideologia utópica.

Há no Brasil famílias de ancestralidades muito antigas e ilustres, como por exemplo, a família Alvarenga, da nossa linhagem colateral, que remonta aos Condes de Guido da Toscana, aos Imperadores da Itália, aos reis francos culminando em Carlos Magno, cuja ancestralidade alcança Dardanus, o rei e fundador de Tróia nascido em 1441 AC, além dos Condes de Barcelona e Reis de Pamplona! Outra ainda foram os Moraes de Antas, também nossos colaterais, que descobrimos ser descendentes dos reis da Bretagne francesa e depois da inglesa, desde circa 380 até 1040 DC, começando pelo Rei Conan Meridiac Ap Gereint, nascido ano 360 da era cristã c.c. Princesa Darerca da Irlanda, a abadessa Santa Darerca, ou "Monnina"!

A Sociologia depende da História; Tradição e Cultura são fatores vitais da Sociedade
O antropólogo Roberto da Matta* alerta para o fato científico de que uma sociedade plena difere-se de outras formas de estruturas sociais, ainda que bem organizadas, justamente pela sua CULTURA e TRADIÇÃO. Diz ele:

“...Não como o formigueiro, que se constitui numa comunidade perfeitamente organizada, mas que não fala, não escreve, nem produz obras de arte que o distinga de um outro formigueiro... e uma vez extinto, jamais tornará a ser reproduzido, pela ausência de sua memória cultural...". A cultura de uma sociedade bem constituída é transmitida pela TRADIÇÃO, que a qualifica e diferencia das outras sociedades, sem a qual ela permanece despersonalizada, desalmada, morta na sua própria essência! É por isto que os comunistas da atualidade infiltrados no governo, chegaram até sugerir a supressão do ensino da História na esdrúxula proposição da "reforma do ensino" proclamada em 2016 pelo governo-tampão! O nosso maior bem cultural paulistano e brasileiro é justamente a conquista territorial Bandeirante, que não pode ser relegada ao esquecimento, como se faz atualmente pelas forças globalistas e colonialistas que dominam o Brasil através da maçonaria - as "forças ocultas" de que nos dava notícia o ex-presidente demissionado Jânio Quadros!

(*In Roberto da Matta, "Uma Introdução à Antropologia", pg. 47-58, Ed. Vozes - Ciclo Básico de História, PUC.

Desmistificando falsos boatos
“Ideias têm consequências, e encontrar as suas origens é essencial para combater o mal que delas deriva". Ricard Weaver. Alguns falsos boatos maldosos lançados contra os paulistas nos primeiros séculos do descobrimento, infelizmente ainda ecoam em nosso inconsciente coletivo, povoado de supostos e fantasmagóricos ancestrais “degredados” (uma minoria insignificante); “adventícios hebreus" (minoria de minorias, quase inexistentes); “bandidos" (só os pendurados na antiga forca da Rua Tabatinguera e os famigerados irmãos Leme, presos e justiçados). A falada “miscigenação mameluca generalizada” (na realidade, dentro da sociedade só havia os descendentes de João Ramalho com a índia Bartira e alguns outros pouco (6) pré-colonizadores, além dos outros inevitáveis mestiços bastardos (chamados de mamelucos) que jamais fizeram parte da família paulista, pois eram criados juntos de suas mães índias no ambiente restrito das aldeias indígenas administradas - mesmo que isto se constituísse num fato de inegável imoralidade, perante a fé cristã.

Um punhado de bravos! E muitos deles foram fidalgos e capitães, vindos a esta terra em busca do ideal medieval do senhorio e de uma grandiosa residência que não possuíam em sua terra natal, pois lá ficaram pobres ou eram fidalgos deserdados pela lei da primogenitura, que legava tudo ao irmão mais velho.

"Paulicea Mia que te Quiero Hispana"!
Séculos XVI ao XVIII - Primitivo Paço Municipal da Villa de São Paulo do Campo de Piratininga em 1628 - Pintura de José Wasth Rodrigues no Museu do Ipiranga - baseada em antigo desenho apócrifo do Arquivo das Índias, em Sevilha, Espanha.

A difamação contra os paulistanos começou bem cedo, na era colonial. Jesuítas revoltados com sua expulsão de São Paulo para o Rio em 1640, passaram a vomitar veneno! A expulsão aconteceu por despacho da Câmara Municipal SP* e executado pelo seu então Juiz Ordinário Capitão Fernão de Camargo, "O Tigre", obedecendo a um abaixo-assinado (encabeçado por ele mesmo) de quase todos os moradores da vila piratiningana. Eram apoiados ainda pelos procuradores de Parnaíba e demais vilas da capitania. Foi uma decisão quase unânime. Os padres, além de querer suspender o trabalho indígena nas roças, eram suspeitos também de colaboracionismo com o governo expansionista espanhol em sua crescente ocupação do território brasileiro, através da instalação de reduções catequizadoras no Sul. Isto, devido a subserviência do seu líder o espanhol Inácio de Loyola ao ambicioso rei castelhano. Mas o principal motivo foi a proibição do preamento indígena, principal fonte de renda paulista ou, “o remédio do sertão”, como era chamada a mão-de-obra do indígena domesticado, jamais "escravizados", uma vez que trabalhavam em parceria e desfrutavam igualmente do produto do seu trabalho!

Pátio do Colégio Jesuíta em 1824 - São Paulo SP

Os jesuítas foram depois reconduzidos às suas funções no Colégio, em 1653, pelo Partido Pires, atendendo aos reclamos que a boa instrução dos jovens paulistanos exigia, pois eram reconhecidamente bons educadores. Seriam expulsos definitivamente em 1759, durante o governo lusitano do despótico maçon Marquês de Pombal, acusados de conspiração (o que vem comprovar a nossa tese). O livro maledicente contra os paulistas, publicado na Europa, à época, pelos missionários do Paraguai Vaissette e Charlevoix, foi posteriormente contestado pelo beneditino Frei Gaspar da Madre de Deus, de São Vicente, em suas antológicas "Memórias Para a História da Capitania de São Vicente" e também pelo seu primo paulistano Pedro Taques de Almeida Paes Leme em sua “Nobiliarchia Paulistana”, ambas precursoras da presente obra na defesa da honra paulista.

Houve ainda uma outra onda de falsos boatos durante a Guerra dos Emboabas (2ª Guerra Civil Brasileira, 1709-1711, nas Minas Gerais), com autoria atribuída àquela notória e conspiradora seita secreta trazida pelos intrusos "Emboabas" portugueses marranos e baianos, que os alarmavam falsamente: "Os paulistas vêm vindo aí pra matar todo mundo" - quando nada disto acontecia -, repetindo o mesmo falso alarme do outro lado, no arraial paulista: "Os Emboabas vem aí pra matar todo mundo" (ainda segundo outra narrativa de Alfredo Ellis Jr.), desta forma atiçando os ânimos de uns contra os outros para provocar a guerra e daí tirando o seu lucro, ou o roubo das minas paulistas ("Em rio de águas revoltas, o lucro é do pescador" - daí a agitação comunista no mundo)!

Aquela sim, foi a grande escória da humanidade vinda ao Rio de Janeiro! Graves enfrentamentos foram se sucedendo até culminar no massacre de 150 paulistas ordenado pelo emboa

ba Bento do Amaral Coutinho, facínora foragido do Rio de Janeiro e que se colocou ao serviço do cristão-novo maçon Manuel Nunes Viana, o caudilho dos emboabas mineiros! Aquele grupo de paulistas já havia capitulado e deposto as armas, sob promessa de clemência, mas o desalmado os matou a sangue-frio! Lá ainda existe o lugar chamado "Capão da Traição", como um memorial macabro estigmatizando a natalidade espúria daquele estado traiçoeiro, e que ainda viria a cumular novas perfídias contra os paulistas durante a Revolução de 1932! "Mui amigos"!

O objetivo dessas máfias estrangeiras chamadas de "sociedades secretas" e que também usam falsas fachadas de entidades "beneficentes" internacionais como Lyons, Rotary, dedicadas à espionagem internacional, é conspirar e anarquizar sempre, para depois tirar o máximo de proveito da confusão reinante e roubar o que puderem.

 

E de fato conseguiram roubar o território das nossas minas, com o apoio do monarca mau-caráter da dinastia dos Bragança, obrigando os principais bandeirantes paulistas como Bartolomeu Bueno da Silva, ”O Anhanguera II” e seu sócio Bartolomeu Paes de Abreu (pai do historiador e genealogista Pedro Taques de Almeida Paes Leme) a se deslocarem para Goiás e Cuiabá, onde viriam, aliás, a sofrer novos agravos da parte dos apaniguados do monarca luso, como o nefasto trapaceiro Governador (lusitano) Antonio da Silva Caldeira Pimentel (que prendeu Bartolomeu Paes de Abreu sob falsas acusações e ainda mandou matar envenenado seu irmão que pretendia defendê-lo na corte lusitana). Foram paulistas injustiçados, ficando sem suas minas e sem os seus direitos de pedágios, garantido em acordo feito e assinado por esse mesmo governador cafageste!


Os irmãos co-fundadores de Ouro Preto, Cel. Thomaz Lopes de Camargo e capitão João Lopes de Camargo, seu tio Sargento Mor Alcaide das Minas José de Camargo Pimentel (nosso enneavô) e outros aparentados, também tiveram as suas minas roubadas enquanto se retiravam para São Paulo afim de se estocarem de víveres para fugir à grande fome mineira de 1700! A autoria da roubalheira foi do emboaba baiano Paschoal da Silva Guimarães pela força dos seus jagunços armados, obrigando os irmãos Thomaz e João a se retirarem dali e se estabelecerem mais adiante, no que se chamaria depois de Ribeirão dos Camargos, distante três léguas e meia, próxima à atual Mariana, onde até hoje se situa a localidade do Arraial dos Camargos, MG. (In HAMG - Diogo de Vasconcelos). Em Camargos seria descoberta posteriormente uma mina de platina (In Revista do Arquivo Histórico Mineiro).
Minas Auríferas descobertas pelos bandeirantes paulistas e posteriormente roubadas pelos emboabas portugueses e baianos.


A Escalada das Esquerdas Políticas nas Universidades em 1968 - militontos idiotizados pelo marxismo atacam aqueles que eram os defensores da verdadeira liberdade - a conservação da nossa genuína identidade nacional!

Após a intervenção militar de 1964 houve uma virulenta campanha boatista denegridora das figuras históricas tradicionais, como forma esquerdofrênica de contraposição burra da classe estudantil idiotizada que se uniu às esquerdas políticas. Ali ainda pululam falsas versões influenciadas pelo “desconstrucionismo" gramscista-comunista, denegridoras da boa imagem dos nossos heróis nacionais, estigmatizando-os como supostos “genocidas” que até hoje induzem o desrespeito às nossas figuras históricas e ao vandalismo contra os monumentos públicos. E tudo isto sob os olhares complacentes dos acarneirados dirigentes acadêmicos “politicamente corretos", mas moralmente anestesiados.

Monumentos vandalizados no Largo do Arouche, defronte à Academia Paulista de Letras. Vândalos migrados não respeitam a cultura paulistana. Odeiam.
Calúnias contra os nossos bravos heróis Bandeirantes

Entre outras "desconstruções" gramcistas difamatórias contra a nossa história colonial bandeirante, destaco a ilógica acusação de "genocídio indígena generalizado". Ora, pois somente o índio vivo tinha valor para aqueles colonizadores como preciosa mão-de-obra produtiva, a qual era tratada com os maiores mimos por muitos dos seus senhores! Uma forma de "escravismo" sui generis, ou mais exatamente uma parceria, pois em troca da sua mão-de-obra os índios recebiam comida regular, roupas, remédios, assistência religiosa e médica, ferramentas, residência fixa - enfim, a oportunidade de "conviver em sociedade e racional trato" (como afirmou Domingos Jorge Velho), com civilidade e urbanidade. Isto, além da proteção das armas de fogo brancas contra os seus seculares inimigos canibais, trogloditas sedentos do seu sangue... e famintos da sua carne! E ademais, andavam soltos e armados, respeitando uma antiga bula papal que garantia sua ampla mobilidade. Matar um índio ou uma tribo, seria para os colonizadores como matar a "galinha-dos-ovos-de-ouro" - um péssimo negócio! Só reagiam com armas em último caso, em legítima defesa, em guerras justas quando atacados! Os princípios civilizados de coexistência pacífica urgiam se impor naqueles sertões brutais e o preamento indígena se constituiu inegavelmente, no "primeiro passo da ordem civil brasileira"! (segundo afirma Washington Luiz, In Na Capitania de S. Vicente).

Certa feita, o fantástico bandeirante Manoel Preto foi indagado do porquê de seus índios, quase mil, jamais fugirem da sua fazenda na Freguesia do Ó, apesar de andarem livres. A resposta foi óbvia: porque eram muito bem tratados! (Mas nem todos os potentados dispensaram os mesmos bons tratos aos seus índios administrados; houve infelizmente, uma minoria despótica que deixou alguns maus exemplos. Mas esta não era a regra, mas exceção, graças a Deus!).

A Confederação dos Tamoyos
Nos primórdios da vila piratiningana houve uma revolta de índios de Ururaí (São Miguel, Zona Leste), chefiados por Jagoanharo ("cão bravo"), o rebelde sobrinho de Tibiriçá, filho e sucessor do morubixaba Piquerobi, que também era dissidente, mas já falecido. Ele se aliou aos Tamoios e Tupininquins, estes mancomunados com os franceses, e estabeleceram um cerco maciço à vila em 09/07/1562, bravamente defendida pelos paulistanos tendo à frente o Mestre-de-Campo João Ramalho e o seu sogro morubixaba-cristão Tibiriçá. Este morreu naquele mesmo ano (25/12/1562) da doença chamada "câmaras de sangue" ou "bexigas" (varíola, da qual também morreu nossa avó Remédios Trujillo Palma em 1946). Teve exéquias com honras de santo-guerreiro e de rei! Houve procissões em suas exéquias por toda São Paulo, pois era muito querido e respeitado! Jagoanharo, aquele sobrinho rebelde, tinha suas razões pessoais para o ataque, pois rechaçava ser submetido ao trabalho do branco e perder o seu "Dolce far niente" (os índios eram e são naturalmente preguiçosos, pouco chegados ao trabalho, até hoje). Mas "foi a partir desse episódio que se generalizou a guerra contra o mundo selvagem e não houve mais como retroagir", afirma o citado Washington Luiz In Na Capitania de São Vicente).

O escravismo de guerra contra os selvagens beligerantes, por outro lado, era uma prática largamente tolerada por aquelas gerações medievais de mentalidade guerreira, principalmente tendo em vista o enorme desafio de colonizar um território inóspito e vasto, desesperadamente necessitado de mão-de-obra.

E habitado, ainda segundo Washington Luiz,  "por trogloditas boçais, no último estágio da evolução humana... “antropófagos sanguinários em constantes lutas entre si, mais para se alimentarem da carne humana do que por outros motivos, ou guerras alimentares!".
Ele cita ainda outras semelhantes descrições nas cartas jesuíticas e no roteiro original de Pero Lopes de Sousa. Em várias literaturas em Francês e Espanhol, divulgadas na Europa, à época, chegou-se a cogitar que os nativos brasílicos não seriam completamente humanos - diz ele; estariam "num estágio intermediário entre a besta e o homem". Foi necessária uma outra Bula Papal, atestando que aqueles trogloditas "eram de fato seres humanos"! (In Na Capitania de S. Vicente - W. Luiz - Edição eletrônica do Senado Federal - ww.dominiopublico.gov).

Não podemos, portanto, julgar aqueles homens europeus com a mesma consciência e civilidade que possuímos hoje, enquanto confinados como minoria num território de tamanha barbárie, habitado por antropófagos bestiais e desconhecedores da compaixão humana. O desejo do gentio bárbaro e pagão de se alimentar de carne humana suplantava qualquer sentido de humanidade! Para os colonizadores, quando atacados, era matar ou morrer! E "nenhuma história nos anais da História Universal registra alguma conquista feita com flores", diz ainda Luiz. A conquista de novos territórios sempre envolveu a atividade militar com a fantástica exceção brasileira, que ao invés de impor um massacre total contra os selvagens (como ocorreu nos EUA, com a Winchester .44" e Colt .45"), amenizava a conquista através do preamento e catequização jesuíta! Foi uma vitória da Santa Cruz - a conquista mais humanitária do mundo!

Poderiam os nativos sentir-se fisicamente ameaçados aos primeiros contatos com os emissários de paz europeus, carregados de presentes? Será que os inúmeros inofensivos padres que eles deglutiram os teriam feito se sentir ameaçados de alguma forma? O jornalista e escritor Eduardo Bueno também cita os esforços que muitos dos primeiros descobridores pré-cabralianos* fizeram para estabelecer contato pacífico, dando-lhes presentes, como no caso dos trogloditas Potiguares do Ceará, mas em troca, foram mortos e deglutidos. Ou que dizer então do náufrago quinhentista alemão, Hans Staden, que em 1554 ficou prisioneiro dos trogloditas, sendo engordado para posterior deglutição, obrigado a assistir horrorizado, aos seus constantes banquetes pantagruélicos? (Talvez a carne de branco se constituísse na esperança de um variado quitute naquela dieta macabra).

Tupinambás, canibais hediondos, inferiores aos animais, os quais geralmente não comem os cadáveres dos seus semelhantes! Seu território bárbaro situava-se entre a Bahia e Rio de Janeiro. Ilustração in Eduardo Bueno "Náufragos, Traficantes e Degredados").

Índios amigos e inimigos
A experiência histórica, entretanto, demonstrou que havia diferenças entre indiotas vivendo em manadas e índios mais civilizados, como foi o caso dos pacíficos morubixabas guaianás Tibiriçá e seus irmãos Piquerobi e Caá-ubi (todos na nossa linhagem), que logo se renderam diante da evidente superioridade da civilização branca. Embora os brancos fossem mal-cheirosos e barbudos, evidenciavam serem detentores de produção, escrita e armas-de-fogo; capazes de navegar distâncias transoceânicas e detentores de um Deus Todo-Poderoso e único, capaz de salvar toda a humanidade e de garantir vida eterna após a morte e a ressurreição para uma nova vida terrena! Além disso, havia a imponente figura do fidalgo Martin Afonso de Sousa, com sua magestade no vestir, no falar, no comandar (que tanto impressionou Tibiriçá, ao ponto de tomar o seu nome no seu batismo cristão: Martin Affonso Tibiriçá!)!

Morubixaba Tibiriçá - ataúde lacrado na Catedral da Sé em São Paulo de Piratininga - morreu como cristão devoto, assim como sua filha (e nossa avó) M'bicy ou Bartira, A Flor.

Percepção - eis aí a diferença entre uns e outros, a verdadeira inteligência (segundo o filósofo indiano Krishnamurti), a capacidade silenciosa de perceber a realidade! Havia índios dotados desta percepção inteligente e logo constataram que seu estilo de vida selvagem estava para sempre ultrapassado após aquele estonteante encontro na praia de Tumiarú de São Vicente. E havia outros indiotas completamente obtusos, antropófagos demoníacos e ferozes. Estes não divisavam nem de longe as vantagens do comércio e da associação, com o subsequente avanço social que acompanha o intercâmbio cultural e comercial.



Aliás, um grupo de cerca de 50 indígenas Tupinambás foi levado em 1550 pelos franceses para Rouen, na França, e participaram de uma festa às margens do Rio Sena, que ficou conhecida como Uma Festa Brasileira (em livro de autor francês Ferdinand Denis de 1850, recentemente reeditado no Brasil), em honra do rei Henrique II e sua rainha Catharina de Médicis, que voltavam de uma viagem.

Muitas tribos hostis se destacaram justamente pela sua boçalidade e ferocidade, e foram elas que provocaram os transtornos das guerras e da dizimação, hoje quase todas desaparecidas: Caiapós, Porrudos, Guaicurus, Paiaguás, Aiauás, algumas Carijós, Araxans, Tupiniquins, Tememinós, Tupinambás. Essas tribos hostis estavam espalhadas principalmente pelo interior de Mato Grosso e Goiás.

Aqui Washington Luiz faz uma comparação entre os índios Incas civilizados do Pacífico e os aborígines brasílicos do Atlântico: "...Mas, à proporção em que se caminhava para leste (dos Andes, O Brasil), essa civilização (Inca) ia perdendo os seus contornos, os seus elementos iam se esvaecendo, se dissipando até desaparecer completamente nas selvagens, cruéis e ferozes tribos das margens do Atlântico. Ali, esses aborígines viviam em manadas (Tapuias), que os aproximavam dos animais irracionais; e tão selvagens, que pareciam selvagens aos próprios outros selvagens. Em certa parte, em que se constituiu o Brasil, habitavam os índios mais broncos, mais atrasados da América. Só conhecimentos de etnologia e de lingüística, que não existiam ao tempo do descobrimento, e que hoje não podem com segurança ser aplicados após séculos de larga mestiçagem, de abastardamento e da decadência física dos índios ainda existentes, poderiam determinar se todos os índios do Brasil, ou mesmo os de S. Vicente, seriam autóctones ou se alguns ou muitos pertenciam a outras tribos invasoras, e quais teriam sido elas....

Os indiotas, manadas nômades de trogloditas no estágio da pedra, boçais, segundo W. Luiz, hediondos antropófagos, eram temidos pelos próprios índios mais civilizados. Não aceitavam confabulação, nem argumentos nem presentes, só queriam matar para comer carne humana, sua principal dieta macabra.

...há na História, principalmente nos povos sem história, problemas que ficarão para sempre insolúveis. A esse respeito, hoje, só se podem figurar hipóteses ou fazer deduções, que por mais verossímeis ou engenhosas que pareçam, não passarão disso. Desses índios só se podem conhecer os usos, costumes e hábitos, ao tempo do descobrimento, pelas descrições dos primitivos navegadores e pelas informações daqueles que com eles tiveram o inicial contato. Os primeiros navegadores tiveram reduzido tempo para os observar e as suas impressões devem ser recebidas com cautela". (In W. Luiz - Na Capitania de S. Vicente, ww.dominiopublico.gov.br pg. 144).

Os tupinambás, aliás, mantinham além do canibalismo, a prática do homossexualismo, segundo o bandeirante e autor quinhentista baiano Gabriel Soares de Sousa: "e não contentes estes selvagens de andarem tão encarniçados neste pecado naturalmente cometido (desenfreamento sexual), são muito afeiçoados ao pecado nefando (homossexualismo), entre os quais não se tem por afronta; e o que se serve de macho, se tem por valente, e contam esta bestialidade por proeza; e nas suas aldeias pelo sertão há alguns que têm tenda pública a quantos os querem como mulheres públicas.” (In Gabriel Soares de Sousa - Roteiro do Brasil ou "Tratado Descritivo do Brasil", de 1587 - Edição Eletrônica da Editora do Senado Federal - ww.dominiopublico.gov.br).

O Prior do Crato Manuel Aires de Casal também deixou suas considerações a respeito dos nativos em geral:
"Entre as inumeráveis nações de que todo o Novo Mundo se achou povoado, apenas se nota alguma diferença física. São os ameríndios quase geralmente baixos, refeitos e proporcionados, de semblante redondo, nariz grosso e um pouco esmagado, olhos pequenos, cor baça tirando a avermelhado, sem barba nem cabelo em parte alguma do corpo, mais do que na cabeça, sendo este mui preto, grosso e corredio. Assemelham-se muito aos malaios da Ásia...

...Eis aqui como um viajante os retrata moralmente: "Os ameríndios são glutões em extremo, quando têm com que se saciar; sóbrios em a necessidade, até nem ainda desejar o necessário; pusilânimes e poltrões, enquanto a bebida os não faz enfurecer; inimigos do trabalho; indiferentes a qualquer motivo de honra, glória ou reconhecimento; unicamente ocupados do presente; sem cuidado do futuro; incapazes de reflexão; passam a vida, e envelhecem, sem sair da infância, da qual conservam todos os defeitos. É para admirar que com tais qualidades seja preciso tanto trabalho para fazê-los bons cristãos." (In Corografia Brasílica, Manuel Aires de Casal, Editora do Senado Federal).

Frei Vicente do Salvador testemunha a ausência de caridade indígena para com os seus velhos fracos e inválidos
"Testemunha sou eu de um (inválido), que achei na Paraíba tolhido de pés e mãos, à borda de uma estrada, o qual me pediu lhe desse uma vez de água, que morria de sede, sem os seus, que por ali passavam cada hora, lha quererem dar, antes lhe diziam que morresse porque já estava tísico, e que não servia mais que para comer o pão aos sãos; mandei eu buscar água por uns que me acompanhavam e, entretanto, o fiquei catequizando porque ainda não era cristão, e de tal maneira se acendeu na sede de o ser, e de salvar sua alma, que vinda a água, primeiro quis que o batizasse, que beber, e daí a poucos dias morreu em um incêndio de uma aldeia, onde o mandei levar, sem haver quem o quisesse tirar da casa que ardia, vendo que não tinha ele pés nem forças para se livrar"...

... Donde se vê a pouca caridade que tem este gentio com os fracos e enfermos, e juntamente a misericórdia do Senhor (Jesus), e efeitos da sua eterna predestinação, a qual não só neste, mas em outros muitos manifesta muitas vezes, ordenando que percam os religiosos o caminho que levam, e vão darnos tigipares ou cabanas com enfermos que estão agonizando, os quais recebendo de boa vontade o sacramento do batismo se vão a gozar da bem-aventurança no céu". (In História do Brasil - Frei Vicente do Salvador - v.1, pg. 20, 1627 - Reedição eletrônica do Senado Federal).


Diogo de Vasconcelos deixa também suas considerações sobre o escravismo indígena: "Por muito que se queiram estigmatizar os procedimentos de nossos maiores, forçoso é que se confesse, praticaram a lei histórica de todos os tempos e de todos os países, em que é mister coexistirem raças desiguais. A menos que se queira de preferência o extermínio, usados nos EUA, mediante a eliminação a ferro-e-fogo dos índios, a escravidão no Brasil foi relativamente humana. Era ela ou o abandono da colonização, e tal é a forma das coisas, lacrimae rerum, que foi a escravidão o primeiro passo da ordem civil, instrumento necessário da grandeza expansiva do mundo antigo".(In HAMG, pg. 108, Ed. Itatiaia).
 

Washington Luiz retrata ainda curiosamente, o vício antropofágico de uma velha índia Tapuia moribunda, a quem perguntaram qual seria seu último desejo, e ela respondeu: "Adoraria chupar a mão de um garotinho Caiapó, com aqueles deliciosos dedos gordinhos, mas não tenho quem vá flechar um para mim". 
  
(In Na Capitania de S. Vicente, W. Luiz - Editora do Senado Federal - ww.dominiopublico.gov.br).

Concluímos que o trabalho, ainda que forçado, foi o único salutar remédio para civilizar aquelas criaturas nômades e ocas. Quanto às demais tribos Tupis, Guaianás, etc, amigas e catequizadas, que em todas as emergências nos auxiliaram, seremos sempre seus eternos devedores!

Trogloditas antropófagos, nômades erráticos que andavam em manadas pelo mato como animais (temidos pelos próprios índios), possíveis ancestrais do presidente macunaíma. Gravura de Debret, naturalista que não mente quanto à realidade brasileira
(In Voyage Pittoresque et Historique Au Brésil - 1834 - vol. 1, planche 10).
Ele finaliza argumentando: “Todos os povos têm as suas origens enevoadas e obscuras. Essa obscuridade engendra fábulas que os pósteros acreditam, cria lendas formosas que arrastam, sustentam, fazem viver e triunfar as nações. São elas inevitáveis e sempre existiram, desde que “os Deuses desceram do Olimpo para coabitarem com as gregas e desde que a Loba amamentou Rômulo e Remo”. A verdade é que a existência dos povos conquistadores sempre começou pelas guerras, as quais só terminavam com o extermínio ou escravidão dos vencidos. Todas as civilizações, tanto em seus princípios quanto em seus períodos adiantados, estabeleceram e mantiveram a escravidão. No Cap. 2º, do Livro 1º de sua Política, Aristóteles, na fase social da Grécia de então, admitia e justificava a escravidão. Estudando os elementos da economia doméstica, considerava ele como partes primitivas e indecomponíveis – a mulher e o marido, o pai e o filho, o homem livre e o escravo – e declara que há pessoas que nasceram para mandar – o senhor – e outras que nasceram para obedecer – o escravo. Do mesmo modo, segundo Gastão Boissier narra, Cícero justificava a escravidão (Ciceron et ses amis, pág. 113) e ninguém ignora que a escravidão sempre existiu em Roma, mesmo nos seus períodos áureos. Nos países do mediterrâneo sempre houve escravos. Em todos os países da América, mesmo nas mais adiantadas nações, houve escravidão, instituição que durou até os fins do século XIX, em muitas nações. Eram fases primitivas da evolução social. Mesmo os jesuítas que defendiam a liberdade dos índios, admitiam a escravidão do africano pedindo negros de Guiné para seu serviço (Cartas jesuíticas, vol. 1º, págs. 126, 130, 138 – Manuel da Nóbrega). D. João III, nas cartas de doação a Martim Afonso, autorizava a mandar para Lisboa, dos escravos que resgatasse, 48 peças livres de direitos. No próprio regimento dado a Tomé de Sousa, D. João III mandou cativar e matar dos tupinambás “aquela parte deles que vos parecer que baste para o seu castigo e exemplo. E isso será, porém, com eles ficarem reconhecendo sujeição e vassalagem” 

(Reg. do Tomé de Sousa – Memórias Históricas e Políticas da Bahia, I. Acioli e Brás Amaral – vol. 1º)
“O que sucedeu no Brasil, sucedeu em toda a parte. Nos começos, de viver quase paralelo, os povos da Europa não tiveram a seu lado outros mais adiantados que descrevessem, em toda a sua nudez, a barbárie dos seus costumes primitivos. O índio da América encontrou escritores, ainda que nem todos inteligentes e de boa-fé, que contaram o estado selvagem em que ele se achava.

Como foi que fidalgos europeus vieram parar nestes sertões inóspitos e sua principal causa.

Muitos genealogistas, inclusive o português Soveral, acreditam que "nunca houve nobres na colonização brasileira". É porque se esquecem que na lei medieval hispana e lusitana, somente os primogênitos herdavam terras, títulos e morgadios (o mayorazgo, em espanhol, e Morgadio em Portugal) ficando os demais irmãos, embora fidalgos, deserdados e na maior miséria. Foram esses fidalgos secundogênitos pobres que vieram para cá, sequiosos de adquirir suas próprias terras, títulos e um senhorio que também os distinguisse, o grande ideal medieval. Eles se constituíram na maioria dos troncos e potentados da pauliceia fidalga colonial. As provas cabais da sua nobreza são as nossas desafiadoras árvores genealógicas paulistas, repletas de apelidos fidalgos, brasões e ascendências reais.
 


 O BANDEIRISMO PAULISTA

Sertanismo de Contrato I: Domingos Jorge Velho, O Conquistador do Norte/Nordeste.
Domingos Jorge Velho - Bandeirante de Santana de Parnaíba SP (Obs.: tem lá um homônimo, seu tio, também bandeirate).
Após o descobrimento do ouro e diamantes, sertanistas paulistas de renome passaram a alugar seus serviços a outras capitanias assediadas no seu interior por índios bárbaros, piratas estrangeiros e escravos negros fugidos para os quilombos, que atacavam Bandeiras e fazendas, assassinando impiedosamente os indefesos colonos, numa forma precursora do cangaço, constituindo-se no maior flagelo da época para o sertão nordestino.
 
A 3 de março de 1687, Domingos Jorge Velho que já havia participado anteriormente da campanha contra os índios bravios do sertão da Bahia sob o comando do Governador (da leva paulista) Estevão Ribeiro Bayão Parente, assinou com o governador Francisco Barreto um contrato de serviços contendo as condições para atacar o quilombo dos Palmares. Em 3 de dezembro de 1691, o governador de Pernambuco, Marquês de Montebelo, reiterou as disposições anteriores acertadas entre ele e Souto Maior, para a campanha de desbaratamento dos mocambos. O contrato foi ratificado pelo Marquês no mesmo dia e confirmado pela Carta Régia de 7 de abril de 1693, que estipulava as mútuas obrigações. Domingos Jorge Velho marchou imediatamente para o local, dando início à campanha que levaria anos de combate. Contou com constantes reforços de novos contingentes, inclusive de Bernardo Vieira de Melo, mais tarde promotor da Guerra dos Mascates. Apenas em 1695 o quilombo seria totalmente desbaratado. Calcula-se que ali vivessem quinze mil negros fugidos à escravidão. Naquele mesmo ano de 1695, foi morto o chefe negro Zumbi, por um outro sertanista participante da força pública comandada por Jorge Velho.

Em 14 de Março de 1695, começou sua campanha naquela localidade da Serra da Barriga, que durou até 1697, quando então caíram os últimos quilombos remanescentes. Em 10 de Fevereiro de 1699, o governador Matias da Cunha nomeou-o, mediante novo contrato, chefe de uma tropa para dominar os índios bravios do Maranhão, Ceará e Pernambuco, levando consigo missionários catequizadores e tendo como loco-tenentes Antônio de Albuquerque e Matias Cardoso de Albuquerque.

Convém esclarecer que esse Domingos Jorge Velho, de quem até agora falamos, não é o mesmo tio homônimo também parnaibano e bandeirante, que Pedro Taques e Azevedo Marques citam como "Domingos Jorge Velho parágrafo § 2.º, que não fez parte do exército sob o governo de Estevão Ribeiro Bayão Parente para mover guerra aos índios do sertão da Bahia, nem foi o destruidor do quilombo dos Palmares em 1695, como escreveram Pedro Taques e Azevedo Marques, pois já era falecido em 1670, enquanto esses feitos militares são de datas posteriores e pertencem a um de seus sobrinhos do mesmo nome".

Domingos Jorge Velho, que participou do exército de Estevão Ribeiro Baião Parente na Bahia e do combate aos Palmares, não é, portanto aquele outro Domingos Jorge Velho* casado com Isabel Pires de Medeiros, e filho de Simão Jorge - e sim, o filho de Francisco Jorge Velho, que era também filho de Simão Jorge e irmão de Domingos Jorge Velho, o tio.
(*In Genealogia Paulistana, volume VIII, página 362, de Silva Leme; «Nobiliarquia Paulistana» de Pedro Taques de Almeida Paes Leme, volume IX).
Santana de Parnaíba SP, "Berço de Bandeirantes" - Cidade Natal de Domingos Jorge Velho (sobrinho e tio homônimos) e outros Bandeirantes de Prol como Bartolomeu Bueno da Silva O Anhanguera I e II, Albano de Góes de Mattos e filhos, e muitos outros. Foto inédita e rara de Alan de Camargo, com a rua completamente vazia, sem carros estacionados.

Domingos Jorge Velho - Nasceu em Santana de Parnaíba, Capitania de São Paulo, 1641 — faleceu em Piancó, Capitania da Paraíba, 1705 (alguns historiadores, como Afonso de Taunay, discordam) e foi um grande bandeirante brasileiro. Filho de Francisco Jorge Velho e de Francisca Gonçalves, foi um dos maiores bandeirantes de origem paulista. Antes de 1671 já perseguia índios hostis no Nordeste do Brasil, na região do São Francisco, onde pretendia estabelecer fazenda de criação. Teve um primeiro arraial no Sobrado, onde estabeleceu uma fazenda de gado na extremidade ocidental do atual estado de Pernambuco, limitando em parte com a Bahia, pelas margens do Rio de São Francisco. De 1671 a 1674, explorou as serras Dois Irmãos e Paulista e o Rio Canindé, no atual Estado do Piauí; a Chapada do Araripe, os rios Salgado e Icó, no atual estado do Ceará; o rios do Peixe, Formiga, Piranhas e Piancó, no atual estado da Paraíba. Por fim, regressou ao Rio de São Francisco através de Pernambuco. 

Recepcionou, estando já instalado no Piauí havia circa 12 anos, a Domingos Afonso Mafrense "Sertão" (da família do fazendeiro baiano dominante) ao Piauí e, depois de tempo combatendo juntos os índios Pimenteiras, (haviam sido contratados pelo rico fazendeiro baiano Francisco Dias D'ávila, que cobiçava as terras d'além São Francisco para estender sua fazenda) separou-se dele e foi com seus índios treinados, dar combate aos índios Cariris rebelados do Ceará e Paraíba, deste último território foi nomeado governador, e onde estabeleceu a sua fazenda definitiva de Piancó e ainda denominou o antigo Rio Povoaçu, Punaré ou Paraguaçu, de "Parnaíba", em memória ao trecho do Rio Tietê que corta sua cidade natal e de seus ancestrais, Santana de Parnaíba, SP. Guerreou os índios Icós e Sucurus e, mais ao Sul, desbaratou os índios Calabaças e Coremas na Paraíba. Cerca de 1675, estabeleceu grande fazenda agropecuária denominada Formiga. Em 1676, fundou um arraial no Piancó logo destruído pelos índios Cariris, o qual reconstruiu depois de vencê-los. De 1677 a 1680 não há notícias dele. Pode ter vindo a São Paulo angariar gente e recursos para seus projetos de guerra ao Palmares, pois sua patente de governador de 1688 diz que "se abalou por terra da vila de São Paulo com o número de gente branca e índios que entendeu ser bastante a conquistá-los". Entre 1680-1684, já estaria fixado na região do Rio Piranhas, formando fazenda agropecuária no Rio Piancó, afluente daquele rio e com sua gente pronta: tinha às suas ordens mil e trezentos índios e oitocentos e vinte brancos. Um de seus filhos ainda teria visitado Taió à procura de ouro. Casou-se já idoso e se deixou descendência legal não conhecemos e pode ter tido também filhos naturais com índias. (Fontes: Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas de Carvalho Franco,  Gen Paulistana de Silva Leme, J.F. de Almeida Prado "As Bandeiras" 1898 pg.102,. Ed. IBRASA).

João Capistrano de Abreu o grande historiador cearense, diz sobre os Bandeirantes e o sertanismo de contrato:
 
"...Um escritor anônimo dizia a respeito dos paulistas pouco depois de 1690: "Sua Majestade podia se valer dos homens de São Paulo, fazendo-lhes honras e mercês, que as honras e os interesses facilitam os homens a todo o perigo, porque são homens capazes para penetrar todos os sertões, por onde andam continuamente sem mais sustento que caças do mato, bichos, cobras, lagartos, frutas bravas e raízes de vários paus, e não lhes é molesto andarem pelos sertões anos e anos, pelo hábito que têm feito daquela vida. E suposto que estes paulistas, por alguns casos sucedidos e uns para com outros, sejam tidos por insolentes, ninguém lhes pode negar que o sertão todo que temos povoado neste Brasil eles o conquistaram do gentio bravo que tinha destruído e assolado as vilas de Cairu, Boipeba, Camamu, Jaguaribe, Maragogipe e Peruaçu no tempo do governador Afonso Furtado de Mendonça, o que não puderam fazer os mais governadores antecedentes por mais diligências que fizeram para isso. "Também se lhes não pode negar que foram os conquistadores dos Palmares de Pernambuco, e também se podem desenganar que sem os paulistas com o seu gentio nunca se há de conquistar o gentio bravo que se tem levantado no Ceará, no Rio Grande e no sertão da Paraíba e Pernambuco, porque o gentio bravo por serras, por penhas, por matos, por catinga só com o gentio manso se há de conquistar e não com algum outro poder, e dos paulistas se deve valer Sua Majestade para a conquista de suas terras." (In Capistrano de Abreu, Capítulos de História Colonial, Editora do Senado Federal, pg. 117)

Domingos Jorge Velho deixa o seu testemunho de próprio punho em carta ao Rei de Portugal
W. Luiz comenta sobre Jorge Velho: "A carta de 15 de julho de 1694, em que Domingos Jorge Velho, chamado a Pernambuco para combater a Tróia Negra dos africanos em Palmares, dá-nos uma idéia do que seriam esses combates. Domingos Jorge Velho era um afamado bandeirante paulista, que organizaria as suas tropas e as conduziria para sertões pernambucanos contra os negros dos Palmares, mais ou menos como os bandeirantes fizeram no Guairá, talvez aperfeiçoado, mas seguindo os mesmos princípios e métodos clássicos da Capitania de S. Vicente. Nessa carta, publicada por Ernesto Ennes, no seu trabalho valioso “Guerras nos Palmares” (vol. 1º, pág. 205 e seguintes) escreve ele textualmente ao rei:

Simpático índio Botocudo, Bem-humorado, se deixou fotografar.
[Primeiramente nossas tropas com que imos à conquista do gentio brabo desse vastíssino sertão, não é de gente matriculada nos livros de V. M., nem obriga por soldo, nem por pão de munição; são umas agregações que fazemos alguns de nós entrando cada um com os servos de armas, que tem, e juntos imos ao sertão deste continente não a cativar (como alguns hipocondríacos pretendem fazer crer a V. M.) senão a adquirir os Tapuias gentio brabo e comedor de carne humana para o reduzir ao conhecimento de urbana humanidade e humana sociedade, à associação (de) racional trato, para por esse meio chegarem a ter aquela, luz de Deus e dos mistérios da fé católica, que lhes basta para sua salvação (porque em vão trabalha quem os quer fazer anjos, antes de os fazer homens) e desses assim adquiridos e reduzidos engrossamos as nossas tropas, e com eles guerreamos a obstinados e resistentes a se reduzirem; e se ao depois nos servimos deles para nossas lavouras nenhuma injustiça lhe fazemos; pois tanto é para os sustentarmos a eles e a seus filhos como a nós e a nossos filhos; e isso bem longe de cativar antes de lhes fazer irreinuneravel serviço com os ensinar, lavrar, colher e trabalhar para seu sustento, cousas que antes que os brancos lhes ensinem eles não sabem fazer”... “Desta gente estava formado o meu terço a saber 800 e tantos indios e 150 brancos”. .. “de aqueles tenho perdido ao redor de 400, e destes não ha hoje bem sessenta que tudo têm destruído a guerra, a fome e as doenças”... “Dos brancos que comigo desceram poucos morreram, porém a maior parte deles vendo o pouco que lhes rendia esta guerra e que nem para os sustentarem lhes dava se espalharam a buscar seu melhor e em seu lugar me deixaram a esperança”... tendo largado tudo e me pôr a caminho ao redor de 600 léguas desta costa de Pernambuco por o mais áspero caminho, agreste e faminto sertão do mundo]...
Ele foi, pois (comprovado mais uma vez), levado por contrato com o governador de Pernambuco, segundo se lê nas primeiras linhas dessa carta autógrafa, que Domingos Jorge foi destruir o Palmares (obra citada, págs. 74 e 75).

Domingos Jorge Velho, quando contratado comandante do terço de paulistas para a guerra da Tróia negra, já devia ser homem maduro, e talvez tivesse tomado parte nas expedições contra as reduções no Guairá, fronteira do Paraná com o Paraguai (talvez em companhia do seu tio homônimo ou com informações deste); pelo menos na sua mocidade ouvia contar as façanhas bandeirantes ali realizadas. Esta carta escrita do próprio punho de Domingos Jorge Velho, como declara Ernesto Ennes, pode dar-nos uma impressão de como foram feitas as invasões e a destruição dos estabelecimentos do padre Antônio Roiz de Montoya, próximo ao Paraguai.

Os paulistas, práticos nas entradas de sertão, useiros e vezeiros nessas expedições, se organizavam para cativação dos índios, como já tentei explicar no Capítulo XII à página 165 (de Na Capitania de São Vicente). Não recebiam soldo e esperavam de seus esforços e de suas despesas somente a distribuição dos índios cativados que traziam para suas lavouras, onde estes adquiriam noções rudimentares do trabalho. Essas bandeiras para o Guairá compunham-se de 300 a 600 homens brancos, que os jesuítas, em regra, chamavam mamelucos, mas o grosso dessas tropas era composto de índios anteriormente aprisionados, dos administrados, dos compadres, entre os quais viviam os portugueses, quase sempre inimigos encarniçados das tribos que iam ser combatidas.


[Isolados, informa Domingos Jorge Velho, (Obra citada, pág. 206) são medrosos contra os brancos, mas encabeçados e guiado por estes são tão valentes, afoitos e constantes nas batalhas, que nenhuma outra nação do mundo se os iguala nem excede”. “Duzentos tapuias sozinhos fugiram dos brancos; sendo acompanhados dos brancos, investirão resolutamente contra 2.000 outros tapuias e os derrotarão, como já me tem acontecido diversas vezes” ...“e sem eles não se pode fazer a guerra desta qualidade]
Foi Domingos Jorge Velho, testemunha, ou talvez autor de guerras contra os selvagens do Guairá, que prestou esse depoimento precioso, que não se pode desprezar no estado da conquista das terras do Brasil e da cativação dos seus aborígines, e que confirma o que já disse no Capítulo “Entradas no Sertão” (pág. 165 deste), tomando posse para a coroa de Portugal de imenso território". (In Na Capitania de S. Vicente - W. Luiz - pg. 358-360).

Outros bandeirantes que acompanharam Jorge Velho em suas campanhas:
Bento Surrel CAMIGLIO, descobridor de minas de salitre no Rio de São Francisco e depois procurador de Jorge Velho junto ao governador-geral;

José FERREIRA, Sertanista baiano que auxiliou o mestre de campo Domingos Jorge Velho e Antonio de Albuquerque da Câmara, nos combates aos índios bravos, na capitania do Rio Grande do Norte, principalmente em 1688.

Belchior Dias BARBOSA; Capitão do terço do mestre de campo Domingos Jorge Velho nas lutas contra indígenas do norte brasileiro, em 1693.

Constantino de Oliveira Edo, Sertanista da Paraíba. Anteriormente, 1694 exerce os cargos de cobrador dos quintos; teve o posto de capitão-mor do distrito e juiz ordinário, em 1718. Foi depois mandado aos sertões dos Piranhas, Cariris e Piancó e dado pelo governo para Pitangui, a fim de combater índios e quilombolas, principalmente para acalmar ali várias desordens. Por tais colaborações foi recompensado com a patente de mestre-de-campo por Domingos Jorge Velho. Foi coronel das ordenanças de Minas Gerais, etc.

Luis da Silveira PIMENTEL - capitão de terço no combate aos índios bravios de 1687 a 1704 e contra os palmares.

Sebastião PIMENTEL.


Antônio Vieira RODRIGUES, Sertanista de São Paulo, que combateu nos Palmares com Domingos Jorge Velho e ali mesmo obteve, no próprio Palmar, uma sesmaria em 5 de novembro de 1716, fazendo dezessete anos que já povoava aquelas terras. 
(In Affonso Taunay - História das Bandeiras II - In Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas de Carvalho Franco

Sertanismo de Contrato II - Cuiabá.


Capitão Antonio Pires de Campos - o “Pai-Pirá”.

Durante o ciclo do ouro, houve uma guerra permanente - promovida pelos índios Caiapós e Paiaguás hostis - contra as tropas de mineiros e comerciantes que se deslocavam num vai-e-vem contínuo entre São Paulo-Goiás, e São Paulo-Cuiabá (monções) redundando num inevitável revide paulista em defesa própria! Houve também uma campanha no início do século XIX, iniciada por ordem de D. João VI, contra as tribos agressoras dos Botocudos (Krenaks ou Aimorés) que assolavam o Norte de Minas e Sul da Bahia.
Tendo em vista a ferocidade dos ataques aborígenes antropófagos contra os pacíficos mineiros, foi comissionado um bandeirante para dar-lhes combate, o ituano Capitão Antonio Pires de Campos, entre 1739 e 1751, em substituição às diligências anteriores de Ângelo Preto de Godoy. Era também conhecido como "Pai Pirá" ("pai comum", "pai de todos", apesar de que no Tupi, pirá é peixe), assim alcunhado pelos seus próprios soldados bororos, de quem ele era o morubixaba (cacique)! Era filho de pai homônimo e que também detinha a patente de coronel tendo combatido os índios Paiaguás na região do baixo Mato Grosso, em bandeiras de 1728 e 1733, depois foi Capitão Mor de Itu SP, onde faleceu com noventa anos, em 1749. As monções (esquadras canoeiras bandeirantes) para Cuiabá, pelo Rio Tietê, Rio Paraná, Rui Cuiabá e outros, eram atacadas pelos igualmente ferozes Paiaguás, índios canoeiros; pelos Bilreiros (ou, Porrudos, que lançavam pesados porretes) e pelos Guaicurus; estes últimos, índios cavaleiros.

"Estradas que andam"


Em 1725, uma carta dos oficiais da Câmara de São Paulo ao governador Rodrigo César de Menezes afirma que:

"Sem a gente parda se não podem fazer os descobrimentos do ouro, por ser só ela a que sabe talar o sertão e navegar os rios, livrando dos perigos que nele se encontram, por causa das muitas cachoeiras e os mais que embaraçam as navegações, sendo a gente parda a que sustenta os sertanistas assim pelos rios como pela terra, pelo largo conhecimento que têm de tudo o que pode servir de alimento".

Depois da descoberta das minas de Cuiabá, em 1718, inaugurou-se a fase das jornadas fluviais denominadas monções, responsáveis pelo comércio - sobretudo armas, sal, escravos, vinho, azeite, aguardente e artigos manufaturados - de São Paulo com Cuiabá e Mato Grosso. As monções geralmente partiam nos meses de março e abril, período em que os rios se encontravam cheios, minimizando os riscos da navegação. Do porto de Araraitaguaba, hoje Porto Feliz, desciam normalmente o Tietê até a foz, seguiam o curso do atual Paraná, subiam o Anhanduí-Guaçu até o Paraguai. De lá alcançavam o São Lourenço para finalmente chegar em Cuiabá.
Índios Cavaleiros Guaicurus - Atacavam as expedições chamadas Monções ao Cuiabá 
 
Em 1727, Rodrigo César de Meneses, governador da capitania de São Paulo, saiu de Araritaguaba levando consigo um séquito de noventa pessoas, uma armada de 308 canoas com mais de três mil homens e canoas de copa e cozinha à sua disposição. O mesmo ocorreu na monção de 1785, em que viajava o juiz Dr. Diogo de Toledo Lara e Ordonhes. Graças à indubitável qualidade de dois cozinheiros, o juiz confessa: "comemos com gosto, e parece que estávamos em povoado, não faltava nada.

Ataque Paiaguá contra as Expedições Monçoeiras ao Cuiabá. Muitas bandeiras foram dizimadas por eles

Quantas bandeiras em busca do ouro cuiabano foram destroçadas por aqueles selvagens! Num episódio de batalha descrito em "História das Bandeiras" de Taunay, um bandeirante foi atingido por um dos pesados porretes que eles atiravam à distância com incrível potência e pontaria, quase sempre mirando a cabeça; e por outra idêntica cacetada no braço que o derrubou do cavalo, caindo como morto! Depois que a refrega terminou, cada parte se retirando para o seu lado, foram os brancos buscar o corpo daquele homem, arrastando-o já com a boca cheia de formigas, quando do outro lado do arraial alguns Porrudos apareceram, ao longe, fazendo gestos indicando que queriam dividir uma metade do cadáver para comerem (pensando que os brancos também o fossem comer). Mas logo deu-se conta que o homem ainda respirava e trataram dele, e depois de permanecer mudo por dois dias, no terceiro já montava o seu cavalo, pronto para nova luta! Como eram valentes esses heróis brasileiros!

Guerreiro Selvagem, com cara de poucos amigos
Agiram sempre em autodefesa, exatamente como aconteceu com a Cavalaria Yankee na proteção dos seus colonos, durante sua marcha para o Oeste um século depois. Mas isto, só depois de esgotadas todas as alternativas usuais de aproximação pacífica, como a distribuição de presentes pendurados no mato, velha tática sertanista. Os agressivos Caiapós porém, não quiseram saber de conversa e chegaram até a invadir cidades como Jundiaí! Fugiram porém, assustados com os toques do sino da Matriz (In História das Bandeiras Paulistas, v.II, Taunay, pg. 245). "Pai Pirá" acabou morrendo em decorrência de uma flechada no braço (com flecha ervada, venenosa), cujo ferimento infeccionou, porém já investido da patente militar de Coronel e do Hábito de Cristo e do perdão dos seus antigos delitos (de natureza não explicitada pelos antigos historiadores), concedidos pela monarquia lusa em troca dos seus serviços (in Dicionário de Bandeirantes e Sertanistas - Carvalho Franco, pg. 97).

O cerco de Cuiabá pelos Paiaguás

J.F. de Almeida Prado* nos deixou o seguinte relato: "A situação dos cuiabanos era péssima. Os canoeiros (Paiaguás) rondavam os arredores de Cuiabá e dominavam por completo o rio do mesmo nome que lhe dava acesso. Muitos dos moradores estavam resolvidos até a se mudarem para a vila castelhana (!) de São Lourenço se as coisas não melhorassem. A conseqüência foi a ordem do capitão-general de São Paulo, Caldeira Pimentel, da expedição de guerra confiada a Gabriel Antunes Maciel, de família de valorosos sertanistas, pouco antes enlutada pela morte de Miguel Maciel em luta contra o gentio bárbaro. A Bandeira alcançou sucesso, aprisionando muitos adversos em justa guerra, como permitira o general. Mas somente aquela providência não bastava, seguindo-se outra Bandeira chefiada por Antonio de Almeida Lara, munida até de morteiros. Entrou no Rio Paraguai, morada de Paiaguás e Guaicurus (índios cavaleiros), os quais dispersou, aprisionou alguns e tomou-lhes cavalos e carneiros. Infelizmente o alívio foi apenas passageiro para a população cuiabana. Em 1732 tornou-se governador da Capitania de São Paulo o Conde de Sarzedas, Luís de Távora. Com maior empenho a nova autoridade tratou de organizar poderosa expedição de guerra composta de brancos, negros e índios contra os Paiaguás e Bororos adversos que perturbavam a vila. Bandeirantes de Sorocaba e Taubaté foram convocados, recebendo o comando de Mestre-de-Campo Rodrigues de Carvalho, auxiliado pelos sertanistas Felipe de Campos Bicudo, Gabriel Antunes Maciel e seu irmão Antônio - sob a recomendação do governador que os expedicionários não se aproximassem demasiadamente da fronteira castelhana a fim de evitar incidentes com autoridades paraguaias. Chefe e comandados não tardaram a desentender-se, causa da morte de Gabriel Antunes que, descontente, se afastara do grosso da tropa e foi surpreendido por Paiaguás que o mataram e a mais sessenta brancos, além capturaram outros, desastre que teria sido total caso não fossem acudidos os restantes por um grupo paulista (cujos nomes não foram mencionados pelas autoridades lusas), o qual repeliu os agressores e libertou alguns prisioneiros"..."Depois de vários combates contra os Paiaguás o mestre-de-campo chegou a Cuiabá, verificando que a indiada contrária dispunha de armamento castelhano fornecido pelos jesuítas do Paraguai. A direção da campanha desagradou Sarzedas, que qualificou Carvalho como inepto"...

... "Assistia-lhe em parte a razão, pois os índios continuavam com repentinos ataques contra as monções canoeiras, sem grande resultado do mestre-de-campo que recusara ultrapassar a fronteira castelhana para perseguí-los, contra o parecer favorável dos paulistas. O resultado foi continuarem os canoeiros obstando as comunicações dos cuiabanos com São Paulo, conhecedores de todos os meandros do rio, ocultos na mata ínvia, de onde surgiam repentinamente, perdendo-se vidas e quintos reais. A série de assaltos não cessava. Uma importante caravana fluvial dirigida por José Cardoso Pimentel foi assaltada, mortos e aprisionados quase todos os viajantes, dos quais escaparam dois brancos e dois negros numa canoa. Outros três bandeirantes reuniram alguns sobreviventes e acometeram de surpresa os índios, libertando prisioneiros, mas as embarcações e demais pertences daquela monção ficaram de posse dos Paiaguás..."
(In J. F. de Almeida Prado - As Bandeiras - Ed. Ibrasa, 1986).Por este relato é possível avaliar a gravidade do assédio indígena, em número muito maior que os brancos. Portanto, os colonos se defenderam com a ajuda do Estado em guerras justas.

O Irresistível e Irreversível Avanço da Civilização Universal Cristã-Helênica.
É lógico admitir que o movimento de interiorização e conquista dos novos territórios também levou ao confronto, às doenças e ao desaparecimento progressivo das tribos indígenas na sua forma original; mas esta era a marcha do progresso; a irreversível expansão mundial da civilização, o inexorável ciclo da evolução universal! Naquelas eras, povos trogloditas pagãos sem potencial de aculturação, iam sendo absorvidos gradualmente pelo processo de seleção natural. Esta é a própria lei da evolução da humanidade e não um suposto "genocídio" intencional generalizado, como falsamente acusa a ingrata e boçal esquerdália cultural aos nossos heróicos antepassados bandeirantes, esquecendo-se de que não fosse por eles, não estaríamos aqui, ocupando este vasto e privilegiado território pátrio.

Hoje, entretanto, já completamente civilizados, nós devemos nos conscientizar em preservar as culturas indígenas remanescentes, pois a sua perda representaria um dano irreparável para a nossa própria cultura, como referencial antropológico vivo, pois o índio em seu estado primitivo é também testemunho e espelho do nosso inconsciente profundo, herdeiro de muitas de suas características genéticas e culturais.

Devemos ademais, ser-lhes gratos pelo muito que seus ancestrais auxiliaram aos nossos ancestrais na conquista e defesa deste imenso território, ressaltando-se os Guaianás, Tupis, Puris, Bororos e Guaranis. Sem essas parcerias, não teríamos conseguido levar adiante a expansão do Território Nacional, conquistando do Reino de Castela 5,5 milhões de Km2, ou 20 graus de Longitude Oeste do (detonado) Meridiano de Tordesilhas!

Houve ainda aqueles outros invasores estrangeiros já conhecidos do nosso currículo escolar: franceses, ingleses, castelhanos, holandeses, todos exemplarmente rechaçados pela superioridade militar paulista, daí decorrendo maior despeito ainda, seguido de outros falsos boatos maledicentes, inclusive nos desqualificando como “macaquitos”, devido a popular miscigenação racial brasileira dos soldados enviados à Guerra do Paraguai. Quanto despeito! Pudera, jamais qualquer nação invasora conseguiu fincar pé de modo permanente em território brasileiro, ao contrário do que aconteceu nos EUA, onde os franceses colonizaram a Luisiana e os holandeses e seus sócios judeus (expulsos de Pernambuco) colonizaram Nova Yorque.
Bandeirismo Épico: Raposo Tavares
Washington Luiz (ex-presidente e ex-governador S. Paulo) comenta sobre Raposo Tavares: "Sou levado a crer que, embora cada bandeira trabalhasse por conta própria, a de Antônio Raposo Tavares tivesse sido a maior, ou melhor, teve sob seu comando outras bandeiras, que, sob o nome de terços, hierarquicamente obedeciam a esse capitão-mor, que se distinguia pela sua iniciativa e inteligência, e talvez por sua instrução relativamente superior ao meio atrasado e inculto em que vivia. A sua assinatura, escrita em todos os papéis, que consultei, está feita sempre com a mesma decisão e igualdade, o que se pode ver nas que em seguida decalquei nos livros da Câmara. A razão dessa minha afirmação está também em que, nos documentos extratados pelo padre Pablo Pastells, o nome de Antônio Raposo Tavares é mencionado em primeiro lugar, o que indica um principal (Nota a pág. 458, vol. 1º do Pe. Pastells, Hist. da Comp. de Jesus). Além disso, a Câmara de S. Paulo, na vereança de 25 de setembro de 1627 (Atas, vol. 3º, págs. 281 e 282) manda prender a Antônio Raposo Tavares e a Paulo do Amaral como os principais amotinadores do povo para levantar capitão de entradas ao sertão. Vê-se também no arrolamento e leilão dos bens de Brás Gonçalves, morto no sertão dos Carijós chamados Arachans, que o Capitão Diogo Coutinho de Melo mandou fazer, a 10 de outubro de 1636, nele declarou expressamente, que assim procedia, por se achar ausente do arraial o capitão-mor Antônio Raposo Tavares em um assalto (Inv. e Test., vol. 21, pág. 45). A cédula real, expedida em 16 de setembro de 1639, a ele se refere como o chefe da destruição" (In Na Capitania de São Vicente, pg. 365).
Antes de setembro de 1629, uma bandeira paulista, sob o comando de Antonio Raposo Tavares, se subdividiu em diversos terços sob a direção dos capitães Diogo Coutinho, Manuel Mourato, Frederico de Melo e Simão Álvares. O primeiro dirigiu-se para a redução de Santo Antonio, que foi a primeira a ser atacada. Simão Álvares mandou um recado ao Pe. Pedro Mola pedindo que lhe entregasse o cacique Tataurá, quem, com seus vassalos, tinha fugido de sua casa e do seu serviço. Diante da recusa natural do Pe. Mola, no dia seguinte ao amanhecer esse capitão deu ordens para o ataque da redução, acometendo a todos como leões desabalados, ferindo, matando, aprisionando os catecúmenos e voltando triunfantes ao seu arraial com uns 2.000 prisioneiros, segundo o dizer do narrador jesuíta. O Pe. Mola recolheu-se para Encarnación onde estava o Pe. Silvério Pastor. A nova do ataque e do destroço de Santo Antônio logo chegou a S. Miguel, onde os Padres Cristóbal de Mendonça e Justo Mansilla procuravam resolver o que lhes convinha fazer, quando lhes veio a notícia de que um outro corpo de paulistas, sob as ordens do capitão Antônio Bicudo se dirigia para S. Miguel. Sem mais consulta, foi dado o grito de “salve-se quem puder” e induziram os índios a fugir e se refugiar nas matas. Bicudo, com seu esquadrão volante, chegou, pôs cerco à redução e levou-a de arrancada, achando-a, porém deserta, “lançava pela boca espuma de raiva”, diz o cronista jesuíta, de quem são tiradas estas notícias. Enviou quadrilhas de soldados a prender os que encontrassem, mas logo se retirou para Jesus Maria.

Um terceiro corpo, sob as ordens dos capitães Manuel Mourato Coelho e Frederico de Melo, cercou a redução Jesus Maria. O padre que aí estava, Simão Mazzeti, ao ver os paulistas se aproximarem revestiu-se com sobrepeliz e estola, e, com uma cruz nas mãos, saiu-lhes ao encontro a ver se assim salvaria a redução; mas os paulistas levaram tudo a sangue e fogo, matando, ferindo, domando e cativando: “Vimos a lançá-los de toda esta terra que é vossa e não do rei de Castella”, diziam os capitães! (Ficando assim explícito que eles detestavam os jesuítas por motivos políticos nativistas, contra o espanhol Inácio de Loyola, o líder dos frades, mancomunado com o rei de Castela em seu plano de ocupação daquele território brasileiro, e jamais devido a uma suposta e mirabolante "vingança" de supostos "x-novos" contra supostos "jesuítas inquisidores", como deturpa uma autora de etnia judaica da USP).

Ataque bandeirante paulista às reduções jesuíticas castelhanas do Sul, que serviam de fachada para a posse da terra brasileira pelo rei da Espanha - foram expulsos e conservamos o Uruguai e Rio Grande do Sul em nosso mapa nacional (O Uruguai posteriormente foi negociado)!

Washington Luiz confirma ainda: Pastells, no seu trabalho, tantas vezes citado, em que recolheu extratos de documentos dos arquivos de Sevilha (pág. 758 e Nota) informa que perguntado pelo Padre Cristóvão de Mendonça” por que título" faziam guerra às reduções, respondeu-lhe Antônio Raposo Tavares, "capitán de uña compañia de portugueses, que - por el título que Dios lhes daba en el libro de Moyses - de debelar las gentes" dando a entender que a exemplo dos israelitas, eles vinham conquistar a "nova Canaã" que entendiam ser sua por beneplácito divino. Mais claramente afirmaram ainda que lá iam, porque o Guairá pertencia à Coroa de Portugal “e que esta conquista lhes pertencia e estava na demarcação de suas terras” (Pastells, pg. 458 - pág. 461 em nota)".

Ataque bandeirante às reduções jesuíta-indígenas castelhanas do Sul, que se apoderavam de nosso território nacional, então sob a jurisdição paulista.

Mais uma vez este assunto é magistralmente explicado pelo cultíssimo Washington Luiz, pois aquela afirmação nada tem de "judaizante", como querem aqueles oportunistas. Ora, quem é crente pentecostal como eu, sabe do costume cristão muito comum de comparar-se ao antigo Israel bíblico, citando o Deuteronômio e Salmos, dando aos escolhidos de Deus o direito da conquista da sua terra prometida, mas tendo antes de debelar ou expulsar aos gentios naturais da terra (em todos os documentos coloniais também chamam ao índio de "gentio da terra", expressão bíblica). Consideravam seu direito àquela possessão por mercê de Deus, ocorrência frequente na mentalidade salvacionista da conquista do Brasil e das Américas em geral, refúgio encontrado por gentes pobres e sofridas oriundas da Europa! Eles não viam na redução espanhola jesuítica nenhuma irmandade cristã amiga, e sim, uma falsa fachada cristã ao serviço do rei da Espanha, mais materialista que espiritual, que lhes tentava tomar a “sua posse conquistada por direito divino”, como entendiam que fosse. Isto fazia parte do pensamento colonial, embasado em seu "saber de salvação", hipótese geralmente aceita como sendo a sua cabeça filosófica.

Quê dizer então da atitude dos reconhecidos cristãos-velhos Camargos, que foram os primeiros a iniciar a Guerra dos Tapes, na 1ª Bandeira de Aracambi contra as reduções jesuíticas espanholas sulistas em Agosto de 1635, comandada por Fernão de Camargo, "O Tigre"? Não eram filhos de um espanhol (Jusepe Ortiz de Camargo) atacando espanhóis? E por este fato significaria que seriam obrigatoriamente "x-novos revoltados contra a igreja inquisidora?” Absurdo! O que se via neles, como em todos aqueles outros brasileiros, era o brotar do sentimento nativista! Estavam defendendo a sua possessão do torrão natal com unhas e dentes! Uma terra duramente conquistada por seus pais - a pátria -, da qual não estavam dispostos a abrir mão nem de um palmo sequer! Não podiam continuar aceitando o asfixiante Meridiano de Tordesilhas, que não lhes deixava território suficiente com riquezas a explorar! Era legítima defesa, pois sem os recursos potenciais desse território ampliado, acabariam banidos! E assim efetivaram a conquista de 8,5 milhões de km2, redesenhando as nossas fronteiras e estabelecendo o atual Mapa do Brasil! Não lhes devemos ser gratos por tudo isto?

Esse fabuloso herói adotivo da nação brasileira, Antônio Raposo Tavares, era de indubitável linhagem fidalga portuguesa castiça, e na vila de S. Paulo ocupou vários cargos da governança; na Câmara foi juiz em 1633 e foi até ouvidor da capitania. Era filho de Fernão Vieira Tavares, que foi provedor da fazenda real em S. Vicente e que aí exercera o cargo de capitão-mor (fidalgo, portanto). A sua ação se fez sentir muito principalmente na destruição das reduções do Guairá (Paraná) e nas que ficavam ao sul do Iguaçu. (In W. Luiz pg. 366). Mais tarde iria também combater os invasores holandeses e seus sócios adventícios, não demonstrando ali nenhuma deferência especial a eles, até a sua completa expulsão!

Nasceu em Beja, no Alentejo, foi casado em primeiras núpcias em S. Paulo com Beatriz Bicudo, filha de Manuel Pires, da poderosa família dos Pires. Enviuvou em 1632 (Invent. e Test. vol. 25, pág.115). As suas façanhas ocuparam a atenção das autoridades*.

(* Observa W. Luiz: "Já sobre ele (Raposo Tavares) fiz um estudo que o Instituto Histórico de S. Paulo acolheu na sua Revista, estudo confirmado na obra de Pastells. Em 1926 viajei ao rio Amazonas e lá parei em Gurupá, onde Tavares, destroçado em 1651, chegou com restos de uma bandeira, depois de ter percorrido a Sul-América, do Sul ao Norte. Nesse ano de 1926, em Curupá, havia um vilarejo em ruínas, com poucos habitantes e muita maleita; e aí, depois de assumir a Presidência da República, mandei restaurar o antigo forte, o que foi executado pelo Ministério da Guerra. Em 1936, em Beja, no Além-Tejo de Portugal, onde Tavares nasceu em 1598, procurei os registros de nascimento, que, depois da República, foram recolhidos às repartições civis; mas não tinham ainda sido catalogados. Deixei pedidos instantes para que fossem eles procurados").
From Sampa With Love,
Alan de Camargo




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